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terça-feira, 12 de julho de 2016

Vai Mais Um Café?

Oi gente! Sumi por mais uns dias né?
O mês de junho foi tão corrido...
Mas o post de hoje é uma outra história que não sai da minha mente. 
Os personagens não paravam de falar.. Por isso resolvi compartilhar com vocês.
Espero que vocês gostem! (:


Vai Mais Um Café?




O dia estava frio. Ouvi a moça do tempo dizer que aquele era o dia mais frio do ano. Aproveitei o horário do intervalo entre uma aula e outra pra ir ao meu bistrô predileto que não ficava a duas quadras da faculdade.
Pedi um expresso italiano naquele dia. Não havia dormido direito na noite anterior, pois, perdi a noção do tempo lendo pela enésima vez um romance que havia ganhado de presente de uma amiga.
Precisava estar acordada pra conseguir prestar atenção nas aulas. 
Peguei o meu café e me sentei numa mesinha ao fundo do bistrô, peguei o livro e comecei a ler. Estava no clímax da história e com uma curiosidade pra saber o desfecho. Afinal de contas não é sempre que em pleno século XIX a personagem principal tem opinião e rompe com as regras da sociedade. Lizzie Bennet me cativou. Fazer o quê?
O lugar era uma calmaria. Mas em questão de minutos tudo mudou. Houve uma revolução. 
Ouvi risadas e conversas em voz alta. Levantei os olhos e por cima do meu livro pude perceber um grupo de alunos do curso de Engenharia tendo um papo descontraído.
Eu não era a única que queria me refugiar do frio naquele lugar. Voltei a minha concentração para a história quando de repente ouço uma voz  falando sobre como havia gostado desse livro.
Quando me virei pra ver quem era o dono da voz confesso que me surpreendi e que joguei por terra alguns pré-conceitos que tinha.
Um cara descolado com um jeito desprendido não me parecia que pudesse gostar de um clássico como aquele. (Sim, podem me condenar. Quem nunca julgou um 'livro pela capa' que atire a primeira pedra). 
Fiquei envergonhada comigo mesma. E então começamos a conversar sobre os personagens, trechos marcantes e coisas do gênero. Até que seus amigos o chamaram pra se reunir ao grupo. Ele se despediu e foi .
Percebi que precisava voltar pois meu tempo estava acabando. O estranho quando me viu passar acenou para mim. Retribuí. Saí daquele lugar mudada porque desconstruí alguns conceitos e intrigada.
Dois dias se passaram até novamente nos encontramos no mesmo bistrô com a diferença de hoje ele estar sozinho.
Eu estava no mesmo lugar só que desta vez lendo ' As Crônicas de Nárnia' de C. S. Lewis e entre uma folheada e outra bebericava meu macchiato. Sem muita cerimônia ele se sentou na minha mesa com seu expresso e ao ver a capa começou a tagarelar a respeito do livro e dos filmes. 
Me disse que há uma quarta história das crônicas para ser produzida e sua visão a respeito de personagens e afins. Descobri que até nossa visão mais densa a respeito da obra era similar.
Perdemos a noção do tempo e algumas horas haviam se passado, o café havia ficado frio e nossas cabeças com várias informações novas.
Trocávamos mensagens durante quase todo o dia. Menos no período do meu estágio e trabalho de ambos (eu cursava Antropologia na época).
Nosso ponto de encontro se tornou aquele bistrô. Falávamos de tudo política, economia, HQ, comida, tempo e romances frustrados.
Quando me vi estava apaixonada por aquele cara. Clichê né? Se uma amiga minha me dissesse isso falaria:
- Sai dessa vida, garota! Isso é uma cilada. Mas é como o ditado diz ' faça o que eu digo mas não faça o que eu faço'.
Até que de uma maneira sutil as coisas foram mudando. As mensagens que antes eram uma constante aos poucos foram se tornando raras. O café que antes era nosso ponto de encontro voltou a ser o lugar que me refugiava nos dias frios.
E os dias se passaram.
Eram as últimas semanas de aula. E os estudantes estavam agitadíssimos. Grupos de estudo se formavam em diversos lugares do campus perto do lago, no ginásio, nos corredores e na biblioteca. 
Eu precisava passar na biblioteca pra pegar um livro de Renate Brigitte Viertler que nem em pdf eu encontrava, quando numa dessas salas de estudo o vejo com seus amigos reunidos concentrados, estudando para alguma prova de cálculo. Ao me ver ele acenou, se levantou e com um sorriso sem graça no rosto veio à minha direção.
- Oi! Está tudo bem com você?
Tentando agir com a maior calma e sem mostrar qualquer incômodo disse:
- Sim. E com você?
- Está tranquilo. Ele disse.
Os segundos seguintes foram ensurdecedores, se assim posso dizer, pois meu silêncio dizia algo e seu estado mostrava muita coisa. E pra quebrar o gelo ele disse:
- Que tal mais um café?
E mesmo indo contra tudo aquilo que acreditava ser o certo e ignorando a razão. Simplesmente disse:
- Aceito. Mas que tal em outra cafeteria?


Raquel Lobo


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